O nome dele é comum, é literário,e eu adoro! Assim como eu sempre tive o maior fetiche de me chamar Maria, Patrícia ou Ana Paula. Mas ele nem liga pra esse tipo de elogio, ou pelo menos parece não ligar.
A gente se conheceu numa casualidade dessa geração, me seguindo discretamente pelo facebook e engatando uma conversa deliciosa pelo messenger dalí. Eu como sempre tentando ganhar os outros pelo charme do meu bom papo, que oscila entre a troça e a perspicácia. Mas nem assim! Ele não cede aos meus apelos sedentos de carência e drama. Está atento, reservado e observando.
Olho pro relógio mil vezes antes dele chegar e fico espreitando quando ele chega, pra ver se capto algum tipo de ansiedade. Corro pro espelho, entoando o mantra da mocinha banal via Tati Bernardi: "eu não gosto dele, eu não gosto dele, eu-não-gosto-dele!"
Aos trinta consegui estragar praticamente todos os meus relacionamentos justamente porque sou passional demais, me apaixono fácil demais, amo demais, me entrego muito!
Pra tanto, na expectativa de acertar estabeleço alguns combinados comigo mesma, nada de morrer de amores. Nada de intensidade. Mesmo que eu goste pra caramba, vai ter que servir o "só que não".
Mas você entra e meu coração resolve me boicotar. "Eu-não-gosto-dele!" - fecho os olhos tentando me concentrar na diminuição dos batimentos cardíacos, mas o risco é iminente de você achar que eu sou louca. Estraguei relacionamentos demais com a garota louca e bizarra que afasta todo mundo!
Você está sereno como quem aguarda a hora certa de atacar. E eu quero te devorar logo! Mas me contento com um selinho de menina comportada. Preciso ser como as amigas que conseguem ótimos e decentes bom partidos. (É porque namorado do tipo futuro-ex-marido é sempre chamado de bom partido.) Tô cansada de rasgar os bofes no dente, apaixonar, enlouquecer, devorar e depois acabar sozinha com uma garrafa de gym, me lamentando por ter me lambuzado demais no doce sem deixar nada pro final. "Chega de ser a doidinha intensa, maior legal se divertir com a louquinha intensa! Mas quem aguenta o tranco de me assumir? De me amar? Ninguém. Chega!"
A pretensão agora é acertar! Então não vou chorar porque ouvi "os barcos" de Legião Urbana, nem pirar as três da manhã porque tenho a impressão que a vida não vale nada, nem ficar mal no finalzinho de Domingo porque o tédio me deixa com depressão, também não vou ficar olhando você dormir com cara de quem se importa. E vou evitar beijar sua nuca de noite, evitando denunciar minha mania de gostar das pessoas bem antes de dar o tempo que normalmente as pessoas consideram ideal para gostar de verdade.
A gente fica junto porque você tem uma fala tranquila e tem uma conversa muito inteligente e então eu corro pro espelho do banheiro pra repetir o mantra "eu-não-gosto-de-você" porque se eu gostar, sei que você não vai ficar!
Aí eu ajo antinaturalmente como se eu não ligasse pra você, como se a gente namorasse há uns bons meses, como se o momento todo especial que tivemos agora a pouco fosse algo muito banal.
Mas quando você vai embora e beija minha testa, eu fico louca pra berrar o quanto eu gosto de você. E te pedir pra mim. E te beijar todo. E te comer. E dormir de conchinha. E te levar café na cama. E enfim de novo, agir como o homem da relação. E eu cansei de dominar e agir como homem e botar tudo a perder. Cansaço de ter mais pau que os caras que saem comigo!
Eu sou menina, porra!
E meninas só entregam o jogo depois que o cara fala que gosta delas! Ponto.
Eu sou menina, porra!
E meninas só entregam o jogo depois que o cara fala que gosta delas! Ponto.
E daí, se você não gostar de mim, mesmo depois de todo esse teatro de sensualizar, porém não, será mesmo a prova de que você vale mesmo a pena!
Vai entender?!
Katy Ramos