domingo, 29 de dezembro de 2013

Os Sons da Sua Varanda...

Acordei procurando o que não tem lugar. O Domingo é o dia em que todas as estações se encontram, mas pra mim, todas com gosto de outono.
Sua ausência me inclina crepúsculo cinza e me rouba a libido de pecar sem interregno. Fico rodeando o pão doce como mosca numa cúpula transparente. Eu te vejo, mas não posso provar. Aí pra piorar, é Domingo.
Dos Domingos...
Gosto mais quando você me deixa dançar sua rotina pra não lembrar que a vida é bélica.
Gosto mais de passar as noites escutando os sons da sua varanda e flertando com as nebulosas e as aquarelas do horizonte urbano de lá.
Gosto mais da sua melodia vocal, do seu hálito de café, suas cervejas amanteigadas, sua cachaça, seus discos, pufe, bateria, seu sorriso espaçoso, sua cabeça pelada, sua caligrafia...
Dos Domingos gosto mais dos dias que não o são!


Acontece que hoje eu percebi que graças ao espaço que nos separa e a flacidez de um Domingo pude valorar o quão é deliciosamente diferenciado estar e ser. Estou mais ágil quando dividida, “as flores exalam mais o seu perfume quando estão tristes” – corro, desperto cedo, fico atenta demais pra cuidar de me cuidar, estou lépida, faceira, inquieta, a gente sozinha se movimenta pra não endurecer...
Assim como sou mais inteira quando me reparto com você! Tudo se desenrola mais intenso, cuidadoso, perfumado. Fico com o meu reparador ligado. As coisas ficam editadas no modo destacado. A gente se enxerga. Sua companhia não é versão de aplicativo que precisa ser atualizada pra rodar mais rápido. O amor é lento mesmo! A gente junto, sabe disso...
A gente que se sabe por não amar em troca de nudez e ainda sim se ama obscenamente pra se devorar demorado...
A gente que se sabe por amar antes e demasiado, a gente, que se denunciou desde o primeiro dia sem cerimônia, por conhecer que quem procura as melhores palavras pra dizer ainda não está certo de dizer.
A gente que se sabe por algumas vezes ficar sem palavras e entender que a ausência delas é também um idioma.

Eu guardo reticências nas sobrancelhas de todo mundo que gosta de Domingo, programa do Faustão, novela das oito, cerveja barata, fila pra entrar na balada e música que repete demais o refrão, se preocupa com sujeira na hora da festa, acha que é bobeira admirar estrela, guarda vontades pra ocasiões especiais, nunca escreve o que pensa e principalmente morre de medo de expor a importância do que sente.
Dos Domingos eu permaneço querendo distância...
Da passagem de ano, substância! Dos muitos e palpáveis desejos para o ano que se inicia, quero continuar desaprendendo os limites e passando mais tempo com você reparando nas varandas...
Que bom que foi num Domingo que você me roubou pra me devolver!
Escrito e compilado por Katyucha Souza Ramos


Este texto é dedicado ao Bruno Oliveira. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Tagore a Leminiscata instantânea

Hoje, levei um tapa moral bem servido no meio da minha cara. O motivo  é que estava eu me pavoneando da sensação gratificante de ter encontrado o suposto homem da minha vida. Quis eu levantar a plaquinha depois de ter assumido por duas vezes em apenas um ano o status de relacionamento sério com respectivamente duas pessoas diferentes.

"Olha! Esse sim, esse pode acreditar, é o cara certo!" – afirmei eu.
"Que garantias você tem?" – subjulgou-me implicitamente o silêncio do outro.

Garantias, garantias mesmo. Nenhuma.
Mas tem essa sensação nunca me acometida antes, de que dessa vez é pra valer...
Sensação que se dá por conta do respeito que ele tem com o meu passado, com a minha experiência, de outros amores e outros vínculos e enfim da mulher que eu me tornei. O tapa psicológico vem daí. Da falta de razão que eu tenho em me enciumar de seus ex-amores e a falta de capacidade dela, ela que não se priva de se queixar vez ou outra pra ele, talvez cobrando alguma promessa que não faz mais sentido cumprir.

Quem sou eu pra me indispor com um coração partido? Eu que parti o meu tantas vezes e por isso mesmo, me encontro aqui, altiva e cheia de esperanças.



Quem sou eu pra negar que o passado deles foi responsável pela composição sensível que eu tanto amo nesse homem hoje?

Quem sou eu pra me indispor com as ironias da vida, quando eu mesma levo o sarcasmo na bolsa pra quebrantar tantas feridas?

Não devo me irritar com os comentários de quem satiriza Vinícius de Moraes ao citar um versículo descontextualizado de sua poesia pra avacalhar a relação da gente! “Ser eterno enquanto dure” é de uma densidade única, vista num contexto de vida intensa pra duas pessoas que se compreendem profundamente.

Amado, veja bem, não é sempre que eu acordo um poço de certezas, mas hoje, eu me lembro que não existem garantias pra nada na vida, isso inclui eu e você. 
Lembro-me que só existe contrato pra morte, cuja cláusula de que tudo que respira termina trata-se de uma certeza irrefutável. Lembro que amar é uma escolha e não um acaso, e assim eu escolhi amar você e você a mim. Lembro que amo outras pessoas com medidas diferentes, porque também escolhi assim. Lembro que já amei outras pessoas e sei que tudo que começa tem um fim, inclusive esse ano, essa etapa, essa vida, outras vidas, o céu, o mundo, e eu e você. Lembro-me que tudo recomeça e se renova também. Tudo, sem exceção. E que isso é também uma questão de escolha. 

Acabei também me lembrando de Rabindranath Tagore, o intenso poeta indiano que é de uma delicadeza incomparável ao reconhecer que o relacionamento humano é passageiro, mas não menos digno de contentamento e gozo. No poema das “Coisas Transitórias” ele afirma: “As flores da ilusão terrena são eternamente frescas, por causa da morte. No entanto tudo está feito e concluído. Recorda isso e alegra-te, porém!”


Em “O Coração da Primavera” Tagore derrama sua gentileza como tributo ao amor eterno, que todavia, é finito. Um amor que morre em si mesmo, calando toda a inquietude da’lma:

Não quero amor
que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro
como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.

Amor que penetre até ao centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até aos ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor
que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz! 

É por isso que hoje eu me aquieto na lembrança de que por você meu amor é uma chuva branda e abençoada, que sacia meu coração como uma criança recém amamentada. 



Que razão tenho eu de qualquer coisa senão dessa saciedade? Que razão tenho eu senão razão alguma?

Do amor transitório eu só sei que o verdadeiro amor faz-nos transitar sim para um outro ser. Nos libertando de nossas próprias amarras e potencializando nossos talentos. Talentos e capacidades que foram plantadas lá no passado. Sempre no passado. Mas a vida acontece aqui e agora.

Este texto é pra você, amado! Este texto é dedicado para os amantes plenos. Este texto já estava pronto dentro de mim faz algum tempo. Este texto é para concordar que sim, que seja imortal enquanto agora, eterno enquanto dure...
Meu pequeno globo de felicidade, minha pílula de alegria, minha leminiscata instântanea. Eu sei e não fica menos belo por causa disso, pelo contrário!

Un toast au passé et les transgressions qui nous ont construits à partir de ce.


heureux 2014!

Escrito por Katyucha Souza Ramos
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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dos malentendidos verde-maduros e das gentes rasas


Ei Katy, por que você é assim?
Assim como?
Assim: porra louca, barraqueira, doidinha, revoltada, fica rindo de tudo?
E que mal há nisso?
Nenhum, se você tá bem assim? (caretinha de despeito)
Por que o tom incomodado então?
...
Fiquei no Vácuo, porque depois dessa o espelho não me respondeu mais...

Era só o que faltava, esquizofrenia com complexo de Freud.
É pra ‘cabar’ mesmo!
O surto se deu depois da pérola que o namorado soltou numa rede social um dia antes, na oportunidade de uma romântica e derramada declaração de amor da minha parte. Cara de João mesmo! Queria codinome beija-flor, parodiar Lobão e seu Francês lixo, ou até mesmo Poe com a sua intenção perspicaz de nomear o personagem com a sua assinatura preditiva, mas é bem a cara dele eu inventar um pseudo-nome tão morno e sem graça quanto era, eu é que não vou gastar meu pó Cazuza com ele, não!
E foi mesmo o fim, porque no outro dia mesmo o liberei pro mercado. Vai que tem gente que tá procurando esse perfil econômico. Poupar amor pra mim é besteira, foi por isso que no auge tranquilo da relação eu quis terminar.
Mas bem, o fato é que no dia anterior, ele veio com esse malentendido verde-maduro:
Então, apesar de você ser meio doidinha e porra-louca tô botando fé no nosso namoro!”
__Er, só que never, criatura-sem-habilidade-com-as-palavras!
Como assim, apesar?
Apesar queima todo o resto... O que é isso querido?
Mas antes quero falar sobre as pessoas porra-louca.
Eu boto fé nelas, sempre botei. Porque são pessoas que assumem publicamente suas chagas, suas dores e delícias, suas neuras... Elas conseguem ser putinhas e fofas requintadamente.
Por isso voltando ao malentendido, tomei raiva de gente que põe vírgula e senão em tudo... Apesar de, então... achei de uma asnice sem tamanho. Quem ama não escolhe moderadores verbais. Quem tá apaixonado não procura desaceleradores morfológicos. Namorar gostoso não combina com advérbio de concessão. Não se pede, nem se implora amor. Quem gosta de verdade não vem com recurso de quebra de expectativa.
Pro caraleo com gente covarde na entrega. Esse negócio de que tem medo da gente entornar o caldo é balela.
As pessoas doidinhas são na verdade muito doces em particular.
Os chamados “barraqueiros” compram brigas pra defender aquilo que amam, são extremamente contra injustiças e são capazes de se anular para lutar pelo quê ou por quem acreditam. São devotos sem reservas, sem o “apesar de”, sem o “mas” e sem o “se”...
“Os revoltados são aqueles que não aceitam esmolas do destino e da sociedade, por consequência vão mudar o mundo, pelo menos o seus próprios mundos!”
Os sarcásticos são aqueles que aprenderam a linda alquimia de transfigurar o esgoto em água quase potável. Encaram os nossos demônios interiores e as escrotices do mundo com um humor inabalável. Fazem troça de tudo, porque sabem que o humor é o lubrificante mais eficiente para todas as curras idiotas a que somos submetidos.

Mirando o estilingue no modelo idiossincrático de se viver acertei Shakespeare que definiu a vida como “som e fúria”. Eu que sou tão ruidosa e virulenta me identifiquei... Com as minhas vírgulas e reservas sempre, por não concordar com o pessimismo que acompanha a expressão em Macbeth, coisa de escritor em TPM na idade média.
Concordo que se eu não sou um padrãozinho exemplar de mulher é por que não o quero. Simples assim. Detesto o comum, o banal, o meio termo. Deceparia a cabeça dos números intermediários. E castraria todos os virginianos perfeccionistas. Desconheço o que há entre o 8 e o 80. Mas em contrapartida, sou real, exposta, verdadeira, sem frescura e intensa.

Zeus me livre de não poder sofrer de meus próprios complexos e egoísmos!
Mas eu não poderia falar de intensidade feminina sem falar em Hilda Hilst e Florbela Espanca.

Hilda derrama a poesia de uma mulher intensa, cheia de vida e paixão. Uma poetisa cujo estilo literário é tão denso que não pôde ser engaiolado ainda. Com vocês um trecho de Alcoólicas:

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas – I)


Florbela Espanca era uma portuguesa de alma libertina, cujo o período literário por si mesma era singular e místico: o interregno. Com vocês “Eu”:
Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Viva as mulheres non pudicas e non rasas!

Mal escrito e compilado por Katyucha Ramos
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As Paisagens Sonoras Mórbidas na Interpretação de Mogwai

A música instrumental é um gênero que nasce da coragem e da perspicácia do músico que age na contramão de um mundo tendenciosamente acostumado com a protagonização de letras e vozes nas melodias. Uma banda que ousa tocar num palco esse estilo e consegue transmitir o sentimento através dessa atmosfera implícita deve ser aplaudida de pé.
O estilo post-rock (também traduzido para o nosso idioma como pós-rock) já foi seccionado em climatizações elementares que vão do alternativo, eletrônico, espacial, ambiente, progressivo entre outros. Mas ao tentar agrupar tendências para este estilo a crítica têm encontrado cada vez mais dificuldades, uma vez que as misturas que compõem tal sonoridade estão se tornando cada vez mais prolíficas e diversificadas. As influências são muito plurais e o comportamento das melhores bandas desse expoente é incoercível.
Mas se eu fosse definir algum rótulo para o movimento ficaria com a definição objetiva de um amigo (Bruno Oliveira) que afirma que o post rock é o jazz do rock, por conta de sua imprevisibilidade.
E é exatamente por causa desse fator que a cada álbum o ouvinte pode se surpreender com a ousadia instrumental de timbres e texturas e alguns fãs mais apegados podem até mesmo se chocar ao perceber que de um disco para o outro a guitarra que era o elemento mais incorporado, pode deixar de ser o alvo experimental do grupo em detrimento de um outro instrumento equivalente como, por exemplo, o sintetizador.
Vejo percussionistas ousados que tocam a bateria sem a obrigação rudimentar dos padrões do rock. Percebo a ausência do medo em abusar das sensações eletrônicas e romper estruturas "verso, refrão, verso". Ouço combinações atípicas que ecoam do clássico ao psicodélico, uma consciência de fluxo harmônico que é diferenciada e inteligente.
Percebo cada vez mais que as bandas dessa categoria não possuem a pretensão de negociar ideias com os seus seguidores e nem com o seu gênero. E apesar de algumas das melhores composições apresentarem a repetição de temas, as variações se destacam pela mudança sutil porém dinâmica de contextos. O nome de cada canção conta uma história única, cuja evolução se traduz através de uma viagem longa e instrumental, contendo repetitivos acúmulos de dinâmica do timbre e da textura.
Apesar da omissão de registros vocais, não quer dizer que eles estejam ausentes, algumas canções possuem letras e vozes sintetizadas ou estilizadas. Sigur Rós, por exemplo, inventou uma linguagem própria (Volenska) para vocalizar as suas emoções em "Olsen, Olsen". A intenção quando há vocalização é obviamente fugir do tradicional, visando o emprego vocal como um acessório, um instrumento a mais.
Toda essa reflexão me faz acreditar que o post-rock é o mais fiel reflexo da iniciativa minimalista no cenário musical, haja vista que reúne as seguintes características: repetição frequentemente de pequenos trechos, com pequenas variações através de grandes períodos de tempo ou estaticidade na forma de tons executados durante um longo tempo e ritmos quase hipnóticos.
Dentre os destaques, impossível não citar Ratatat, God is an Astronaut, Tortoise, Mono, kraftwerk e os escoceses da banda Mogwai que me inspiraram este texto.
O nome da banda tem origem num personagem fofinho de onde se originavam os Gremlins, criaturas maldosas de um filme trash blockbuster da década de 80. 

O grupo se formou em Glasgow em 1995, e irá lançar seu 10°álbum "Rave Tapes" em 21 de Janeiro de 2014. Com duas canções já divulgadas, Mogwai revela seu atual encantamento pelos sintetizadores e sequenciadores.

Mas o que me chamou sensivelmente a atenção foi a trilha sonora que eles acabaram de fazer para uma série francesa chamada Les Revenants (Os fantasmas).


A série aborda um fenômeno sobrenatural em uma província montanhosa na França, onde os mortos voltam à vida, não como zumbis, mas de uma forma muito inesperada e misteriosa, de modo que os próprios mortos não se lembram de terem falecido, como se a existência tivesse pausado e por um momento as luzes tivessem se apagado, um flash coma. A série descreve a tentativa destes em retomar a antiga vida. E os conflitos surgem não só devido aos processos de readaptação de seus hábitos pessoais, mas também a crise de seus parentes e parceiros que ao contrário dos despertos, ficaram um bom tempo sem o ente querido.

Em pouco mais de quatros canções, Mogwai soube explorar bem esta atmosfera, e mesmo quem nunca a viu pode capturar os momentos vivenciados nas melodias.
Wizard Motor surge aos poucos no inconsciente do ouvinte e o leva para dirigir por estradas sinuosas em que o precipício está a centímetros de distância. O caminho, no entanto, não parece perigoso e a rota leva quem está dirigindo a despertar, assim como os mortos, de uma pausa. Acordar para se arriscar a viver aquele sonho, desejo esquecido:


Soup é curta, melancólica através de seu baixo melódico. Penitência, luto para aqueles que estão um pouco menos vivos após a morte de um grande amor:

  
The Huts é misteriosa, combina muita bem com uma cena de investigação. O que está acontecendo? Quem são essas pessoas que voltaram à vida? Por quê? Perguntas e não respostas, ecoam quando escutada:


The Messiah Needs Watching é o melhor momento do trabalho. Uma música sonhadora, com um teclado tocado delicadamente e que traz uma intensa paz quando escutada. Os problemas desaparecem, a vida parece simples diante de um milagre que é de um pai, irmão, tio, voltar a vida. Realmente inesquecível:


 E por falar em fenômenos místicos, a banda Urumbeta do Espaço (post-rock genuíno goianiense) basearam-se num estranho zumbido que vem sendo ouvido no mundo inteiro e mais especificamente nas cidades de Bristol, Taos e Bondi, para fazer um rock de qualidade. O tal zumbido "hum" trata-se de um ruído de baixa frequência persistente e frequentemente comparado a um motor em marcha lenta. Faça um favor a você mesmo e confira a canção que tem a autoria de Adriano Pua. Ouça e deslumbre-se clicando aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=K0hxYbyrTA4/


Depois se você, assim como eu for fã de ficções científicas questionadoras confira também o episódio entitulado "Drive" da série arquivo X - 1998, no qual o agente Mulder especula as frequências por trás do "Taos Hum chamado".

Mal escrito e compilado por Katyucha Ramos
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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Um Salve aos Costumes Condenáveis!


Se a felicidade está fora de alcance por aqui, o brasileiro sempre vai encontrar “o jeitinho certo” de (prostituir) substituir a satisfação. De preferência instantânea. De preferência barata. De preferência líquida. Não, espera. De preferência condensada, comprimida, encapsulada e facilmente arranjada. Porque em gotas demora, em conta-gotas complica, porque fitoterapia é coisa de oriental e terapia seria supostamente pra Europeu afetadinho. Brasileiro prefere amostra grátis, dose única, garrafada milagrosa... E é por conta dessa obsessão pelo antídoto ao invés de tratar ou prevenir, que a gente vive numa era supositório. E tome-lhe no rabo, toda vez que a gente precisa de solução.

Essa é a melhor resposta que tenho para a pergunta de uma cínica amiga, que printa em palavras, quando em seus momentos de cabisbaixa sobriedade invoca o retrato inconformado de sua incompreensão perante a situação política, acultural e o escambal que se sucede comumente em nossas vidas, ao nos deparamos com toda a sorte de gente escrota, praticando suas escrotices, escangalhando com os nossos chakras, com a nossa paciência e o nosso escasso senso de justiça, se perguntando: “Mas, o que acontece nesse país?” Acontece como no filme Febre de Rato (Direção de Cláudio de Assis) que esse povo entorpecido vive de “comer, trampar e trepar”, só. Mas, isto é, se as perguntas retóricas fossem desejosas de respostas.

A verdade é que as questões retóricas que nos trazem à luz de alguma reflexão funcional se alimentam de chasco, ditério, motejo, zombaria e subversão. Elas engordam com as nossas putarias, as nossas transgressões. E bem por isso, não fico me demorando nelas. Bem por isso eu prefiro me demorar em bares “copo sujo”, gargalhadas escandalosas, beijos molhados, sexo do bom, gente de bem e que ainda sim é safada e fofa. Bem por isso prefiro às vezes ficar guardadinha em casa na presença de um nego carinhoso, fazendo Poi* e administrando Almodóvar, Tarantino, Allen, Wachowski, Bukowski e Fela Kuti tal como morfina pra alma.  Bem por isso, cara amiga, brindemos aos costumes condenáveis que lubrificam as nossas goelas e retos suavizando os desaforos em forma de curra e felação a que constantemente seremos submetidos nesse cenário pátrio.

Esse fim de semana foi ébrio de reflexões tupiniquins. Duas películas nacionais concentradas de idiossincrasias culturais tão familiares quanto perturbadoras, ficaram me atormentando até o derradeiro momento em que pari este texto. Duas doses concentradas de hediondezas, revestidas de cinismo e escatologia. Em Febre do Rato (2011), a poesia embriagada de Zizo, um pária anarquista, reúne suas revoltas num tablóide que distribui em torno de um Recife gastado, um discurso literário e passional na intenção de mudar o cenário social da região. Mas o esforço não passará de um desabafo lirista e mudo, numa terra de gente conformada e entorpecida, onde a erva cala a revolta e alimenta sonhos pequenos. Lugar onde as paixões não se consumam, ainda que as vontades transbordem. Febre do Rato enche os nossos olhos com a disritmia social brasileira e uma dose barata de voyeurismo, regada a urina de roedores asquerosos, a película é certeira ao direcionar os nossos olhares para o fato de que lá o corpo fica exposto, o coito é afobado e o pé é descalço. Aliás como em todo o resto do Brasil.

Já em Cheiro do Ralo (2002, Lourenço Mutarelli – direção de Heitor Dhalia) o humor negro trata de uma urgência introspectiva muito comum: a da necessidade à perversão corruptiva e voluptuosa no brasileiro. No ser humano em si, sim, mas principalmente no aproveitadorismo de nosso povo, o da troca de favores, de benefícios entre clientes de um sistema tão carente e sádico quanto ele mesmo, um negociante afetado de uma loja de quinquilharias que é tão desesperado quanto sua clientela. Com duas obsessões que compartilham de uma carga analógica fudida no cenário nacional: a do cheiro do ralo e a da bunda perfeita.  Que patriota vivendo nesse país de indisciplina social não percebe que aqui as coisas na política cheiram muito mal e que a putaria corre solta como símbolo da belezura libertina que aqui há?

E pra terminar o fim de semana em êxtase fui apresentada a um escárnio musical delicioso para abrandar a febre filosofal cinéfila a que fui submetida: Na Poi de Fela Kuti. Um hit nigeriano considerado escandoloso e subversivo. Na Poi é uma expressão Yorubá e significa “É sexo*!” Fela Kuti era conhecido por suas performances, e seus concertos eram tidos como bárbaros e selvagens, isso porque ele vivia no palco uma experiência de arrebatamento, fazia de cada apresentação sua uma celebração única e inesquecível. Pra essa intensidade toda a qual me identifiquei simetricamente eis que só posso mesmo definir a delícia da experiência musical em duas palavras: Na Poi! 
Porque se vai me fuder, dá cá um beijinho antes...


Mal escrito e compilado por Katyucha Ramos




  


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Limpando a bunda com o Manual de Enrascadas Emocionais

O que acontece com dois corpos de grandeza parecida que compartilham das mesmas características de força e intensidade ao se encontrarem, convergindo para o mesmo percurso? Um beijo Tsunami, um encontro furacão, uma vontade tempestade... Devaneios subjetivos para uma questão objetiva. Deixo pra ele que entende de Física. Ele, por sua vez, me respondeu impassível que se a colisão é inelástica, não ocorre perda de energia, os corpos batem e ficam juntos. Acrescentou mais um bocado de observações pontuais, mas enfim, nada poético, embora ele seja o cara mais sensível que já conheci e embora a resposta nada romântica ainda se encaixe em meu argumento.

Por que não viver todo o tesão da lua, enquanto ela for mel... Por que antecipar os anseios tolos, se eles já estão a caminho... e por que não celebrar o interregno dessas projeções na falta nenhuma que elas fazem. Conjecturas retóricas para questões que merecem respostas mais que intuitivas. Deixo para o futuro que assim como Alberto Caeiro nunca tarda.
Saber gozar sem repartir o dízimo da ressaca moral. Entregar-se sem sucumbir ao veredicto avarento da culpa. Repartir-se sem o coitadismo matemático dos riscos. Teoremas inquietantes que simplesmente carecem de aplicações funcionais, ou seja, a prática do método: vá se meter com a sua própria vida e deixe a dos outros pra lá!

E pensando em deixar, deixo pra gente mesmo, cuja coragem que nos cega contraria todas as predições... Pra gente, que se beija enquanto o mundo acaba em equações infindáveis... pra gente, que tá cagando pras regrinhas dos primeiros encontros. Pra gente, que vive pra gente. Ponto.
Apreciar a presença do amante sem procrastinações posturais (lê-se por isso o chamado cú-doce), agradecer pela honestidade da relação sem questionar o merecimento, duração e a natureza da coisa. Pra gente, se cheirando como dois animais, reconhecendo instintivamente a mesma espécie de fera no outro.

Gostar ou não gostar demais? Dizer ou não dizer que ama? A paixão deixa a pessoa alienada? Transar ou não no primeiro encontro? Ligar ou adicionar no whatssap? Casar ou comprar a droga de uma bicicleta? Pro CARALEO com essas etiquetas relacionais!!! Manualzinho de encontros é muito útil pra fazer roteiro de programa chato das manhãs derrota da rede globo.

Ser subversivo, justiceiro de seu próprio destino. Gozar junto pra contrariar as regras. Que regras? Vingar o passado de amores líquidos, bebendo direto da fonte sem pudores. Dispensando a bondade ociosa dos conselhos cínicos de quem supostamente quer o seu bem. Fazendo da imperfeição acessória quando juntos. Macumba do bem, fazendo a felicidade e o amado voltar e ficar por mais de três dias! Dançar pra quê na hora do acasalamento se a gente pode usar a criatividade? Deixem a dança para o meu funeral. Agora, (suspiro) eu quero mesmo é aproveitar. Tirar proveito. Prover amor. Se eu posso escolher a quem, que seja pra mim é claro. Egoísmo, eu? Já falei, pro “caraleo” com as suas definições, que eu já limpei a bunda com as minhas...
Enrascada emocional é coisa de gente mesquinha com os sentimentos, que teima em dosar carinho e guardar o resto debaixo do colchão. Coisa de quem tem memória de elefante pras imperfeições do parceiro. Gente que vive se lamentando por não encontrar a pessoa certa, enquanto a verdade é que “pessoa certa” é um botãozinho que nunca esteve no outro. 

Mal escrito e compilado por Katyucha Ramos

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Amando em Alta Frequência...


Frequência é uma grandeza física ondulatória que indica o número de ocorrências de um evento (ciclos, voltas, oscilações, etc.) A Alta Frequência é uma corrente de elevada intensidade destes, uma frequência de muitos milhões de períodos por segundo. A minha condição condutora, como ser feminino, inconstante, sanguíneo e passional que sou, é vastamente ampla e assimetricamente alterada no que se refere as paixões que vem de dentro - já dizia o vovô, TDHA 220 volts, Alceu...

Eu amo incoisificavelmente muito! Eu gosto inclassificavelmente demais! Me jogo perigosamente total! Conhece aquele livro “Mulheres que amam demais”? Pois é, provavelmente trata-se de uma bula da minha pessoa. Sabe Cazuza, o exagerado? Então, chegado meu nessa megalomania de amar absurdamente. No meu epitáfio quero: “Aquela que amou até a morte, mais do que tinha pra morrer”. Hipérbole condensada, dramática, tão eu! Eu e essa mania insana de não desejar simplesmente alguém que me complete, mas sim alguém que me transborde, me inunde completamente até o final.

Mas só que esse negócio de ser uma máquina desgovernada de amar, me fode!!! Nunca diferenciei os cogumelos venenosos dos sadios e daí, como descobrir o que mata sem morrer aos pouquinhos provando?





Eu carrego comigo um sorriso gasto e a ladainha pronta pra quem me questionar que “vencer”, “encontrar”, “estar certo”e “compatibilizar” são perspectivas ilusórias em relação ao amor. Ganha mesmo no amor quem não quer ganhar. Encontrar o amor é coisa de cinema, na vida real a gente ama o que tem, escolhe amar quem nos convém. Não existe outra certeza além da finitude de todas as coisas e é compatível conosco apenas aquilo que aceitamos de verdade, é isso! E não o que alguma energia etérea venha determinar por meio do destino ou de qualquer besteira sobrenatural do tipo (E com isso eu não estou afastando o misticismo que há em amar e ser amado, apenas quero exaltar que 90% da coisa é prática) Sim, amar é uma prática. Quem não se importa em se despir, entregar-se, se desvelar ama de verdade, ama sem frescura, sem nota no rodapé, sem contrato. E ainda consciente disso, ainda sim já fiquei nua em argumentos para justificar alguns desencontros que tive por dentro. Porque esse negócio de se relacionar é indecifrável. E definitivamente melhor tentar definir o abdômen do que uma relação saudável.

Mas não, eu não desistirei da prática de amar condensado só porque as coisas ficam difíceis no relacionamento. Não, eu não desistirei de amar desiquilibradamente. De arrebentar as caixas em que teimam me colocar. De teimar pra que o meu peito desenvolva argumentos melhores pra amar mais. De cutucar, de esbarrar, torrar o saco, ensaiar encontros, não desistirei do seu gênio difícil, de contrariar as expectativas, de fazer drama pra depois cair na comédia. Por saber que o tesão de verdade é exclusivo e que o sexo pede a provocação do conflito. Não desistirei de provocar.
Não, eu não desistirei de amar sem vergonha, desorganizado, descontrolado e Confuso. É confuso porque não faço planos nem contas, não fico controlando o ritmo. Não economizo amor pro mês seguinte...

Alta Frequência, embora não haja paz no tipo do amor que sinto! Medo constante de perder os amigos, de apertar demais as declarações e estragar o suco da boa amizade, de estrangular a respiração ao ponto de entrar em apneia. Até minha ansiedade é amor. Eu sofro naturalmente de inconveniência pra entender as delicadezas do sentimento que o outro reserva. O fogo da minha fogueira não chega a amanhecer porque queima ardentemente rápido. Eu tenho uma rixa com o bom senso. Arde em mim uma ânsia de ser feliz maior do que consigo expressar com a minha coordenação motora. Sinto-me assaltada pela vontade de abraçar e de me repartir, de me fazer querida e notada, é tão voraz que assusta! Pareço agressiva, mas é intensidade, é apenas exagero. Eu revelo minhas desgraças com humor e conto algo engraçado como se fosse tragédia. O riso e o choro são abundantes em mim. Cumprimento as pessoas como se estivesse me despedindo. Eu guardo também o direito de fazer promessas de amor que talvez nunca sejam cumpridas, porque não há graça nenhuma em articular apenas aquilo que se pode medir e palpar. Eu antecipo o “eu te amo”, só pra depois amar por teimosia e provar que era de verdade. Por fora já desisti, enquanto por dentro sempre encontro motivo pra recomeçar. Eu vou pela esperança da volta. Eu amo pela esperança de amar de novo e de novo...sempre.

Amando em alta frequência eu gastei todas as minhas utopias na paixão e todas as minhas energias no exercício realista de manter o amor. O que sobrou sou eu.

Sou aquela que ama tão intensamente que ‘ser uma pessoa melhor’ chega a ser uma ofensa pra mim, desejo ser a pessoa necessária, a preferida, a mais especial. Uma faixa de modulação única na mais alta frequência. Porque somente os grandes riscos reservam grandes emoções.

Câmbio desligo.


 Mal escrito e compilado por Katyucha Souza Ramos

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