Se rock é do Capeta, eu sou quase a madame Satã, não que eu seja uma exímia entendedora da coisa, mas me sinto sábia em relação a isso. Sabedoria no sentido lato da palavra, sabor. Saborear, saber o sabor da coisa, o sabor que o rock tem, o sabor que o rock me provoca, nos ouvidos, no corpo, na alma.
Alguns ficarão impertigados pela generalização e intimidade com que me refiro a esse estilo musical sem categorizá-lo como heavy, hard, death ou qualquer outro rótulo metido a besta, mas acordei com uma ressaca irreverente e oportuna de quem não comemora dia dos namorados, mas goza no dia do rock. Então que se fodam os entendedores obsessivos pau-no-cú!
Ontem, a data que já é interessante se intensificou com o sábado, 13 e aquela lua linda que domava a treva. Carpe Noctem para todos os malucos, alternativos, revoltosos e amantes dessa poesia musical.
Eu morfei loucamente na companhia ilustre dos clássicos que me rendem plenitude e na companhia mais ilustre ainda de um cúmplice que compartilha o mesmo sabor, quiçá maior ou mais intenso. Sorte a minha! Sorte a nossa...
Eu não saberia precisar quando exatamente, mas houve um momento em minha vida em que parei demarcar datas e feriados como eventos especiais, em detrimento de algo que realmente merece importância como as pessoas queridas, momentos interessantes e a vontade de fazer acontecer sem precisar de um feriado pra isso! Mas o dia do rock foi uma deliciosa exceção.
Algo de irresistível acontece comigo em relação ao rock desde que eu era pequena. Bizarrinha desde sempre, eu encarnei desde cedo a contravenção em pessoa ao gostar de Queen, Rollings Stones e Legião Urbana, enquanto era obrigada a ouvir o breganejo chato em todo evento familiar, quando não eram aqueles idiotinhas dos menudos. Graças ao bom Deus, não me traumatizou... muito!
Aí veio Sex Pistols, Ramones, The Clash, Exploited, e eu virei punk à minha maneira é claro! Atitude eu sempre tive, mais objeto de desejo mesmo era ser mais estranha, tipo o "lixo e a fúria"... mas não dava, família extremamente careta, já me olhava torto só por eu pensar diferente. O temperamento já era topetudo demais, tinha que me equilibrar.
O punk me ensinou que eu não tinha que gostar do que os outros gostam e essa lição a gente leva pra vida inteira, só que dentro!
Porque eu nunca pude ir senão aos inferninhos underground quando adquiri certa idade, mas não fico amargando resignação só porque não pude ir aos festivais rock in Rio, e nem fico morgando num estilo só. Fiquei arrebatada pelo metal, Korzus,
Exodus, Nuclear Assault, Kreator, Slayer, Anthrax, Destruction e Overdose que fizeram parte de um vocabulário super metidinho em uma certa época da minha vida. Mas estamos falando de outro tempo, sem internet e sem amplo acesso musical às fontes. Eram difíceis e caras as cassetes e os discos, principalmente morando em Goianá - (a fazendinha que o facebook desconhece). Gente daqui que até hoje acha que estamos falando de vídeo game ao mencionar Joy Division.
Então acessível mesmo eram as bandas rock nacionais, delirava com todas especialmente Legião e Titãs - (que era o "bicho" na época, então não me olhe torto), mas confesso que só não me rendi ao chato do Gessinger, salvo piano bar e outras duas musiquinhas, acho Engenheiros do Hawaí um saco!
Eu acompanhava de olhos brilhantes aqueles festivais pela tevê que eram patrocinados por marcas gigantes de cigarro (o que na época era um luxo, a marca da vez era Hollywood!) e que trouxeram os Alice in Chains, Seal, Red Hot Clilli Peppers, Living Colours, Jesus Jones...
Tá certo que depois de degustar esse rock rasgado e rebelde de meados de 80, fiquei resistente quando bandas como Nirvana chegaram, chegando, com tudo. Mas foi inebriante também!
Com tudo isso! E nem citando metade dos ídolos e das coisas que gosto vou ensaiando uma conclusão cretina sobre o tema, simplesmente porque falar de rock me deixa sensível, emotiva. Assim como já não posso com algumas cancões que são proibidas por conta de seu conteúdo explosivo emocional: Bohemy Rapsody - Queen/Os barcos - Legião/Bittersweet sinphony - The Verve/Cry babe - Janis, entre outras... simplesmente não posso com elas, desaguam meu pranto. Recordações que se confundem com a própria vida!
Quando vem então uma data pra comemorar uma música que já se confunde com a minha história então, fico sem palavras, acabo portanto compilando esse desabafo safado e pouco literário.
Se o rock vale a pena? Eu não vou citar o célebre recorte de hora absurda in Fernando Pessoa, mas sim Morrissey com "There is a light that never goes out". Meus olhos ainda estão brilhando e não se apagam com o tempo, pelo contrário se iluminam mais!