segunda-feira, 28 de abril de 2014

O saldo da minha estima avariada é o óbito da minha empatia...

Pegou a carta que eu escrevi e limpou a bunda com ela! Não era uma carta qualquer, era uma declaração-contrato com premissas bonitinhas de apreço e bem querer. Arrancou a rosa do vaso e rasgou-lhe a cor com os dentes, naquela hora do rompante avesso deitou o cristal do recipiente violentamente no assoalho, os cacos se perderam nos cantos, com pontinhas enterradas nas dobras mais íntimas da minha ingenuidade.
Fiquei olhando sem entender a ofensa e o espanto transbordou no meu olhar uma nascente.
...
Minha dignidade encolheu. Voltou dentro de um bolso, muito tímida.

Gente que não dá valor a verdadeira amizade, cega, anula, castra a importância da oferenda. E depois os faniquitos fleumáticos chegam querendo suavizar o imponderável. 

Tentou recuperar a carta, mas a mensagem se corrompeu. A rosa estava morta e pedir desculpa para o vidro despedaçado não o faria recomposto. 

Mudei a certeza de lugar pra limpar a bagunça.

A confusão que sobra quando uma amizade é interrompida, é sempre maior pra quem valoriza a sutileza do presente.
É fundamental saber que quando um sentido se confunde, confie num outro...

O essencial é invisível aos olhos, mas aos outros sentidos jamais! 

Katyucha

domingo, 6 de abril de 2014

Almorróida Gêmea

Porque Romeu e julieta é o romance mais lembrado como referência de intensidade numa relação amorosa? Se você respondeu que é porque eles morreram de ou por amor, está tão equivocado quanto as adolescentes semicegas que enxergam alguma beleza no neymar... Romeu e julieta são a representação mais fidedigna de que tudo que é intenso e bom dura pouco! (merda isso!!!) pra falar bonitinho, esse romance demonstra a genialidade de Shakespeare, meu amigo literário imaginário, em representar a efemeridade de uma relação perfeita, de uma entrega que era tão equânime e densa que teve de cessar. (verso da mão na testa, inclinação 40° da cabeça sentido céu, leve franzir entre as sobrancelhas, olhar pesaroso de pose dramática e corta!)
Porque falar disso é importante?
Não, não é.
Mas é que a longevidade de uma relação é Simplesmente um tema xavão que um cronista lírico nunca deixa de ensaiar e a essa regra não me furtarei.
Os grimm não descobriram a fórmula do sucesso no “era uma vez” e sim no “E foram felizes para sempre”... poupando a sua legião de leitores da verborragia de d.r.* e páginas sem fim do intento malogrado de cada princesa e príncipe em suas irritantes e talvez insustentáveis vidas conjugais...
O príncipe não teria se tornado um podólatra tão eficiente não fosse a interrupção abrupta no romance tão promissor com aquela loura charmosa que dançava o lepo-lepo tão bem chamada cinderela e que, oportunamente, teve de fugir logo na hora do “vamo ver!” (espertinha essa fada madrinha, aposto que era a conselheira amorosa mais requisitada do reino)...
A alvíssima Branca de Neve nunca teria encontrado um parceiro tão promissor em sua saga beata cantarolando virgindade no jardim e ainda continuando virgem depois de se juntar com sete pouco viris miniomens, não tivesse a sua madrasta levemente a envenenado forçando o encontro perfeito entre um necrófilo de sangue real e uma princesa de aparência cadavérica e acrescentando o tempero da impossibilidade da relação como o fator mais atraente, reafirmo que não teria de fato se dado bem essa albina do caralho!!!

Dos contos de fada ao cinema, a vida segue mimetizando a arte. A chave está em não poder, na interrupção, no findar atômico em pleno auge e latência da sensação endorfílica que a paixão provoca.
Quero ver a resistência da cama compartilhada, da comida dividida, da rotina  consultada... quero saber na hora do egoísmo abcesso inflamado, da mágoa furúnculo que o outro ao envés de tratar tenta espremer! Da provocação que vem no momento onde só cabia a desculpa.
Eis a dica que as histórias que adoramos nos dão: termine no auge do sentimento. Se for capaz!
tremam os queixinhos porque eu vou parir o melhor conceito de todos sobre o matrimônio:
Eis que o casamento é uma hemorróida que vez em quando estufa e às vezes arrebenta. Sempre incomoda, mas tem gente que passa a vida inteira com e ainda vive bem. Já outros extirpam de vez, porque os cuidados que devem ser guardados para que ela vez ou outra não se inflame torna-se inaceitável.

Taí minha definição e é a melhor que eu tenho. Mais tenso que isso é só afirmar o quanto sou feliz com a minha hemorróida. E não vem achando que viver sem hemorroida é mais fácil, a chave da eternidade amorosa não é o evitar e sim o interromper. O momento em que as flores mais exalam perfume são as poucas horas depois de serem interrompidas. Depois disso elas secam e antes murcham. Atrelamos o nosso conceito de felicidade na vida a dor desde que nascemos. Nascer é dolorido. E explicar isso é ainda mais complicado.
Hoje minha hemorroida está inflamada, coisa besta que fiz e que comi, inchou um pouco, cuido pra não piorar e deixo que melhore com o tempo. As vezes, tenho que empurrar com a mão pra ela voltar pro lugar, embora necessário é sempre desagradável. Mas não se engane, um mínimo de esforço é sempre necessário! O não fazer nada nessas horas é a mesma coisa de achar que um touro não vai te atacar porque você é vegetariano.
 Aí eu aguardo minhas varizes emocionais pararem de latejar pra anestesiar a dilatação do outro com beijos e desculpas. Mas agora, confesso estou escatologicamente pouco romântica.

*dr: discutir relação/mas dr: deixar ruir é melhor!

Escrito por Cocô Ramos, ou assim pelo menos me sinto.