Porque
Romeu e julieta é o romance mais lembrado como referência de intensidade numa
relação amorosa? Se você respondeu que é porque eles morreram de ou por amor,
está tão equivocado quanto as adolescentes semicegas que enxergam alguma beleza
no neymar... Romeu e julieta são a representação mais fidedigna de que tudo que
é intenso e bom dura pouco! (merda isso!!!) pra falar bonitinho, esse romance
demonstra a genialidade de Shakespeare, meu amigo literário imaginário, em representar
a efemeridade de uma relação perfeita, de uma entrega que era tão equânime e
densa que teve de cessar. (verso da mão na testa, inclinação 40° da cabeça
sentido céu, leve franzir entre as sobrancelhas, olhar pesaroso de pose dramática
e corta!)
Porque falar
disso é importante?
Não, não
é.
Mas é que
a longevidade de uma relação é Simplesmente um tema xavão que um cronista lírico
nunca deixa de ensaiar e a essa regra não me furtarei.
Os grimm não
descobriram a fórmula do sucesso no “era uma vez” e sim no “E foram felizes
para sempre”... poupando a sua legião de leitores da verborragia de d.r.* e
páginas sem fim do intento malogrado de cada princesa e príncipe em suas
irritantes e talvez insustentáveis vidas conjugais...
O príncipe
não teria se tornado um podólatra tão eficiente não fosse a interrupção abrupta
no romance tão promissor com aquela loura charmosa que dançava o lepo-lepo tão bem chamada
cinderela e que, oportunamente, teve de fugir logo na hora do “vamo ver!”
(espertinha essa fada madrinha, aposto que era a conselheira amorosa mais
requisitada do reino)...
A
alvíssima Branca de Neve nunca teria encontrado um parceiro tão promissor em sua saga beata
cantarolando virgindade no jardim e ainda continuando virgem depois de se
juntar com sete pouco viris miniomens, não tivesse a sua madrasta levemente a envenenado
forçando o encontro perfeito entre um necrófilo de sangue real e uma princesa
de aparência cadavérica e acrescentando o tempero da impossibilidade da relação como o fator mais
atraente, reafirmo que não teria de fato se dado bem essa albina do caralho!!!
Dos contos
de fada ao cinema, a vida segue mimetizando a arte. A chave está em não poder, na
interrupção, no findar atômico em pleno auge e latência da sensação endorfílica
que a paixão provoca.
Quero ver
a resistência da cama compartilhada, da comida dividida, da rotina consultada... quero saber na hora do egoísmo
abcesso inflamado, da mágoa furúnculo que o outro ao envés de tratar tenta
espremer! Da provocação que vem no momento onde só cabia a desculpa.
Eis a dica
que as histórias que adoramos nos dão: termine no auge do sentimento. Se for
capaz!
tremam os queixinhos porque eu vou parir o melhor conceito de todos sobre o matrimônio:
Eis que o casamento
é uma hemorróida que vez em quando estufa e às vezes arrebenta. Sempre incomoda,
mas tem gente que passa a vida inteira com e ainda vive bem. Já outros extirpam
de vez, porque os cuidados que devem ser guardados para que ela vez ou outra
não se inflame torna-se inaceitável.
Taí minha
definição e é a melhor que eu tenho. Mais tenso que isso é só afirmar o quanto
sou feliz com a minha hemorróida. E não vem achando que viver sem hemorroida é
mais fácil, a chave da eternidade amorosa não é o evitar e sim o interromper. O
momento em que as flores mais exalam perfume são as poucas horas depois de
serem interrompidas. Depois disso elas secam e antes murcham. Atrelamos o nosso
conceito de felicidade na vida a dor desde que nascemos. Nascer é dolorido. E explicar
isso é ainda mais complicado.
Hoje minha
hemorroida está inflamada, coisa besta que fiz e que comi, inchou um pouco,
cuido pra não piorar e deixo que melhore com o tempo. As vezes, tenho que
empurrar com a mão pra ela voltar pro lugar, embora necessário é sempre
desagradável. Mas não se engane, um mínimo de esforço é sempre necessário! O
não fazer nada nessas horas é a mesma coisa de achar que um touro não vai te
atacar porque você é vegetariano.
Aí eu aguardo minhas varizes emocionais pararem
de latejar pra anestesiar a dilatação do outro com beijos e desculpas. Mas agora,
confesso estou escatologicamente pouco romântica.
*dr: discutir relação/mas dr: deixar ruir é melhor!
Escrito
por Cocô Ramos, ou assim pelo menos me sinto.